Boquiaberta

domingo, fevereiro 24, 2008

limiar da perfeição

quando criança tinha cheiro de amaciante. sua mãe deixava ela e o irmão na creche. chupava dedo, tinha nojo da chupeta. todos mexiam e remexiam os cabelos da pequena. descobriram os piolhos. os fios de três palmos ficaram reduzidos a 1/3. a franja cobria os olhos e a tia do pré insistia em mandar recados pela agenda: "a franja da sua filha está muito comprida. prejudica o desempenho. favor cortar."
A tia cortava com a tesoura de tecido um ou dois dedos de franja. quando cortava demais, a testa aparecia. tinha testa grande.
cabelos lisos, curtos; magra e alta. olhos cheios de sorrisos tristes. sofreu, chorou, sorriu, gargalhou, mas continuava chorando até adormecer na madrugada.
passou de criança para mulher. é uma mulher maravilhosa, de grande personalidade, de grandes sonhos e conquistas. é um ser humano que vale a pena conviver. é boa, linda, carinhosa e inteligente. e existe...

terça-feira, fevereiro 12, 2008

pouco, pouco. muito pouco.

Eu já escrevi muito. tenho cadernos, papéis rasgados, arquivos, rascunhos de blog. leio, releio, publico pouco. percebi que tenho receio à crítica. foda-se o que você ou seus amigos pensam do que eu escrevo (ou de quanto eu deixo de escrever). já nem consigo me agradar, quanto mais aos outros. alguns chamam de baixa auto-estima eu prefiro chamar de alta auto-crítica.

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

lobotomia

o que será isso tudo? sinto apenas o indício da loucura. minhas mãos firmes, hoje trêmulas, balançam em volta do piano quase desafinado. as coisas giram ao meu redor como se fossem carrosséis desvairados em todo o torpor mundano.
sem escrúpulos nem medidas: 360° de pura nostalgia podre e estúpida. errare human est.
perdi a noção do tempo ao mergulhar na partitura desfigurada, no compasso desregrado, na atonalidade composta.
merda! eu sempre esqueço o metrônomo correndo. a vida parece, então, marcada - como uma bomba relógio esperando zero segundos para simplesmente não existir e levar consigo tudo aquilo que seria uma ameaça.
mas nem sempre é...
acostumados a pensar que pessimismo é regra geral, corremos contra o tempo a fim de não perder o que há 1 segundo foi perdido e tentar conquistar o que já se tem.
às vezes lembro, esqueço. parece que sou a mesma menina que aos 14 anos achou ter conhecido o grande amor (achou também ser único). aí ela me lembra que já não tenho mais tempo. a desgraça e a peste vêm acabar com qualquer tipo de romantismo que possa ter pertencido aos 20 e tantos anos - épocas de responsabilidades e coerências. droga. quero ter meus 15 anos de novo. só assim poderia julgar minha loucura de querer errar como só um desvio adolescente.

meus sentimentos

- oi
- oi
- td bem?
- td. e vc?
- é...

...

- vc sabe, né?
- é. eu to sabendo.
- uma pena.
- realmente, uma pena.
- mas é assim mesmo. é a vida, ou o fim dela.
- é.
- pelo menos ela sofreu pouco...
- pelo menos vai descansar.
- é...
- que descanse em paz.