Boquiaberta

segunda-feira, maio 19, 2008

al coda

fitei o nada com um medo mudo. vi seus olhos e lembrei do dia que te conheci. me apaixonei por uma casca oca, sensível, falsa, fraca. não pensei duas vezes em conhecer o segredo pequeno que havia atrás de um grande e desengonçado corpo feio e mulambo. era a alma doce e burra de alguém que não sabe controlar o que sente, sabe e vê. não foi por uma palavra mal-dita, nem por um gesto impensado. a mágoa que guardo é por não ter conseguido amar. por ter passado tanto tempo inócuo. não guardo saudades, lembranças, memórias, carinhos, risadas... esqueci seu rosto e durmo tranquila e feliz em braços incapazes de erguer a voz em minha direção.

terça-feira, maio 06, 2008

amor

tinha, na janela do quarto abafado, uma gotinha. ela se deixou levar, percorreu lugares, encontrou outras gotinhas, mas acabou só no corrimão escuro. era a mais bela das gotinhas e isso não a salvou do corrimão. o que a gente não percebe é que no corrimão tem mais um monte de gotinhas. sempre tem uma esperando a outra. sempre tem alguém segurando a mão de outrém só no intuito de dizer como o dia e como a noite são bonitos. lá fora e aqui dentro. só depende de onde você vê a gotinha.

segunda-feira, maio 05, 2008

grata

tinha no cabelo o último laço feito pela mãe e no tornozelo uma correntinha delicada. andou sozinha por um tempo, sem tristeza, sem se arrepender. vestiu sua melhor roupa, tomou um chá quente e saiu com as mãos e os pés tão livres quanto a bactéria que nem pede licença ao entrar no organismo. deixou-se rir e chorar. deixou-se levar tão intensamente por todas as emoções que surgiram, mesmo mentiras ou verdades absurdas. não teve medo, não tinha medo. ilesa de desilusões e com a capacidade de superar qualquer tipo de dor. mentiu na minha cara, desgraçado. obrigada. hoje em dia eu gosto de você e passo a mão por seu cabelo grande com imenso torpor. seus braços abraçam o vazio e os meus a grande e bonita felicidade. obrigada.