Boquiaberta

quarta-feira, outubro 10, 2007

vindicare

estava passando no posto de gasolina e vi um gato. um pelo curto feio. maltrapilho, maltratado. tinha uma metade de orelha e me fitou como se me julgasse.
passamos bem uns 5 minutos assim: entreolhares.
Eu não sabia se saía do carro e ele se entrava no beco. deu-me a impressão de que tinha pressa, mas poderia ser timidez. uns olhos amarelos que não são humanos, nem caninos. uma fenda sugestiva, um brilhante ar conquistador.
uma paixão desumana. uma beleza crucial. pensei no conceito de belo e em quanto ele anda em voga. no mundo dos gatos os mais gordos seriam reis; os mais magros: nerds; os de olhos claros: comuns; os de pelo longo: ricos; os de pelo curto e raça: classe média e os sem orelha como este: vagabundos. e é por esses vagabundos que meus olhos param e meus pensamentos se perdem. olhei na alma daquele gato, maldito gato.
ele queria só minha atenção. queria erguer seu ego em detrimento do meu tempo. me achou estúpida e abusou da minha piedade. tudo bem, eu gostei. gostei enquanto ele me enganou de amarelo, enquanto sua fenda se abria por falta de luz. senti dor e remorso ao abandoná-lo debaixo do pneu...

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